Encarnado e Branco

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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A Vergonha da Capital na C.L.




Mas porquê?

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posted by J G at 9:56 da manhã

2 Comentários:

Arranjas-me o texto de hoje da Leonor Pinhão, sff?
Anonymous Anónimo, at 10:02 da manhã  
cá está ele:

Contra a corrente
Estádios e Estados ou não há fartura que não dê em fome (… de justiça)
Por

leonor pinhão
NO século XX, um certo filósofo francês escreveu um texto notável sobre as receitas culinárias minuciosamente fotografadas no seu apronto e publicadas, nunca em menos de duas páginas, nas revistas femininas e nos suplementos de fim-de-semana da imprensa generalista mundial.

Explicava o filósofo, depois de muito bem filosofar, que quanto mais elaborados são os pratos apresentados, quanto mais exóticos e difíceis de encontrar são os seus ingredientes, quanto mais impraticável é a sua confecção, quanto mais cara sai a refeição sugerida, quanto mais inusitada e esplendorosa à vista é a imagem final do prato de comida mais e melhor se revelam as limitações económicas, sociais e culturais da origem quer dos jornalistas e editores quer dos leitores e consumidores.

Antes dele, houve quem dissesse — e com razão — que o nível e a qualidade de um jornal ou de uma revista se revelava directamente pelo nível dos temas e pela qualidade da exposição na secção de cartas dos seus leitores.

O que não está mal visto de modo algum. Mas este texto do tal filósofo francês sobre a culinária, tal como nos é apresentada nos meios de comunicação, significa um passo em frente, uma revolução na análise e na percepção do mundo que nos rodeia.

Desconfiemos de quem nos quer iludir sobre nós próprios com miragens sofisticadas que não passam de uma forma vistosa de ocultar a realidade pobretana e de projectar uma exibição do falso e do inatingível.

Aspirava a um ideal de civilização o tal filósofo francês. Terminava desejando o impossível: encontrar nas páginas de uma revista ou de um jornal a receita de como bem cozinhar um par de ovos estrelados, miserável refeição e, por isso mesmo, entre todas a mais chique, honesta e descomplexada.

Nós todos, milhões de portugueses, temos um provérbio lapidar sobre o tema: «Não há fome que não dê em fartura». E vice-versa, diria o filósofo francês. «Não há imagem de fartura que não seja explicada pela fome.»

Por muito absurdo que possa parecer, tudo isto vem a propósito do futebol português. E da sua imagem visível de prosperidade, sofisticação e limpeza que nos é apresentada, no prato, pelos seus Estádios novos, todos modernaços, confeccionados, ingrediente a ingrediente, para o Euro 2004. Um regalo para os olhos.

Comparem-nos com os espanhóis, já.

Da vizinha Espanha, chegaram-nos duas notícias ontem.

A primeira: o ministro da Justiça, Mariano Bermejo, foi à caça na Andaluzia e não tinha licença de caça. Imagine-se que os nossos irmãos ibéricos consideraram este pecadilho um escândalo e o ministro da Justiça teve de apresentar a sua demissão que foi prontamente aceite pelo primeiro-ministo Zapatero.

Era, obviamente, uma questão de civilização, de regime, enfim, uma questão de Estado.

A segunda: o FC Porto foi jogar a Madrid, ao Estádio Vicente Calderón, propriedade do Atlético local. O Estádio está uma ruína, ao contrário dos nossos Estádios apetitosos, ricos, lindos de fotografar. Ontem, nas páginas deste jornal, sob o título «Condições Miseráveis» podia-se ler: «Os jornalistas que estiveram ontem no Calderón a trabalhar podem dizer que no que toca a Estádios, Portugal é mesmo um paraíso. Colocados no cume do Estádio Vicente Calderón, os jornalistas tiveram que trepar incontáveis escadas. Não há elevador, os bancos estão orgulhosamente sujos. Enfim, a pré-história parou por aqui…»

Foi, obviamente, uma questão de Estádio. E nessa questão do prazer para a vista em comparação com a espanholada mais civilizada em questões de Estado, como muito bem assinala o jornalista, «Portugal é mesmo um paraíso».

Na verdade, em questões de Estádios damos 10-0 aos espanhóis.

Mesmo com o Helton na baliza.

No plano teórico, o tão esperado duelo José Mourinho-Alex Ferguson, de anteontem, em São Siro, Milão, não foi ganho por nenhum dos dois.

Foi ganho por Artur Jorge que não estando lá disse há muitos anos: «Uma equipa que queira ser excepcional tem de ter um guarda-redes excepcional porque um guarda-redes excepcional vale 10 pontos no fim de um campeonato interno e vale milhões numa competição europeia.»

Quando o jogo entre o Inter e o Manchester United terminou a realização pôs uma câmara em cima de Júlio César, o guarda-redes brasileiro dos italianos. E vimo-lo a rir, pudera. No último lance, tinha defendido uma bola tramada em ziguezague rematada por Cristiano Ronaldo na cobrança de um livre directo. Nos 90 minutos anteriores, com as mãos, com o corpo, com as pernas, defendera tudo o que Cristiano Ronaldo, com os pés e com a cabeça, lhe atirara brutalmente para a baliza.

Se Júlio César não fosse excepcional, o Manchester teria saído com um resultado histórico de São Siro. E a crítica teria dito: «O guarda-redes do Inter exibiu-se em bom plano, não foi mal batido em nenhum dos golos porque não teve a mínima hipótese perante a noite fulgurante do avançado português.»

Os guarda-redes excepcionais são os que defendem as situações em que não têm «a mínima hipótese». Os outros, os que defendem todas as bolas com hipótese de defesa, mesmo as muitos difíceis, são apenas os guarda-redes muito bons.

O que também tem o seu valor. Só que, às vezes, não chega.

OBenfica tem amanhã, no seu Estádio, um jogo da maior importância. Recebe o Leixões. Nesta temporada, a equipa de José Mota já venceu em Alvalade e no Dragão, ou seja, fez bem melhor do que o Benfica que empatou no Dragão, e merecia melhor, e perdeu em Alvalade, sendo que foi bem melhor o resultado do que a exibição.

A derrota em Alvalade desanimou um bocadinho as nossas hostes, o que é perfeitamente normal. São jogos especiais estes entre os rivais de sempre e um insucesso motiva uma inevitável onda de desânimo. Uma espécie de desacreditar nas nossas capacidades. Nas capacidades do nosso plantel, nas capacidades do nosso treinador que deixa logo de ser um mestre na matéria para passar a ser um tipo que não percebe nada de futebol.

É mentira. Quique Flores percebe imenso de futebol. É esta a notícia, mais do que uma notícia, trata-se de um facto comprovado que é obrigatório partilhar com todos os benfiquistas sem excepção, mesmo com o Pedro Proença.

Quique Flores percebe mesmo imenso de futebol. Na véspera do jogo entre o Atlético de Madrid e o FC Porto, entrevistado em directo pela estação de rádio Cadena Sur, afirmou sem medo de falhar: «Helton é um guarda-redes irregular. Há que pô-lo à prova.»

Ele saber, sabe.
Blogger J G, at 10:13 da manhã  

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