Encarnado e Branco

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terça-feira, 21 de abril de 2009

O Curioso Regresso de Van Gaal à Ribalta

Van Gaal: agora o Mundo
POr: JOSÉ MANUEL RIBEIRO (o jogo)

Em 1987, Aloysius Paulus Maria van Gaal era o capitão a gasóleo de uma estranha equipa chamada AZ, por esses dias já esquecida do título holandês que havia ganho seis anos antes. Aliás, na época posterior, o Alkmaar Zaanstreek viria mesmo a descer à segunda divisão, mas sozinho. Aloysius, um médio talentoso boicotado pelos genes lentos e pela força da gravidade, decidira a tempo desertar do barco em que acumulava as funções em campo com as de treinador-adjunto.

Para completar o salário, dava premonitórias aulas de educação física numa escola para adolescentes desadaptados, função que no fundo nunca deixou de ter e explica como, desenrolado o resto da história que toda a gente conhece, Van Gaal se veja de volta ao local de partida para ganhar o primeiro título em mais de 10 anos. Nos 10 anteriores, coleccionara 16. Nada de irremediável, diz. Uma cláusula no contrato com o AZ (até 2010) sugere o caminho: pode sair já se for para uma de cinco selecções lá especificadas. Sabe-se que a Inglaterra é uma delas. "Quero ser campeão da Europa ou do Mundo."

Louis Van Gaal tocou boa parte dos grandes talentos da década de 1990. Do AZ saltou para a equipa técnica de Leo Beenhakker, no Ajax, onde ficou com a famosa, e de então em diante ainda mais famosa, pasta da formação, que viria a entregar a Co Adriaanse, um dos poucos feitios disponíveis no mercado mais difíceis do que o dele, como o FC Porto ficou a saber uma década mais tarde. Revolucionada a escola do grande clube de Amesterdão, saltou para o lugar de Beenhakker, ganhou a Taça UEFA (1992) logo no ano seguinte e a Liga dos Campeões, mais a Taça Intercontinental, em 1995, repetindo a presença na final da primeira em 1996. Na vitória sobre o Milan (1-0), no Prater, cheguei à sala de Imprensa a tempo de o ouvir dizer: "Eu ganhei. Os jogadores tiveram o mérito de fazerem exactamente o que lhes disse." Outra pista para o que estava por vir.

Numa entrevista que deu à revista da FIFA há apenas um ano, Van Gaal sintetizou bem o que sucedeu entretanto, quando lhe pediram que escolhesse o melhor futebolista com quem trabalhara. "Não vou distinguir ninguém", disse. "Os jogadores não contam para nada, a equipa é tudo." Foi mesmo assim. Do Barcelona em diante, pelo menos até regressar ao AZ, os jogadores não contaram para nada. Nem os dois campeonatos, nem a Taça do Rei, nem a Supertaça europeia, nem sequer o futebol estratosférico que pôs a equipa a jogar ajudaram, no entanto, a vencer essa batalha com as estrelas, perturbada ainda pela exagerada multiculturalidade no plantel, que lhe complicava a passagem do ar nos tímpanos e agravava a surdez.

Mais tarde, na hora de escolher a virtude que melhor caracterizava o então adjunto Mourinho, diria que era o contacto com os jogadores. "Aprendi com ele." Não o suficiente para sobreviver às duas experiências catalãs que lhe fechariam para sempre (?) as portas do futebol de primeiro plano, embora o tempo lhe tenha dado razão. Riquelme, Saviola, De La Peña, para citar apenas alguns dos jogadores que pôs de lado, foram tão capazes como ele de se manterem na crista da onda.

Proscrito, mobilou um gabinete nos escritórios do Ajax. Sentou-se durante dois anos numa secretária, largando-a em fúria com Ronald Koeman, um treinador com quem não partilhava afinidades técnicas e que passou a odiar, sem grande sorte. Foi por Van Gaal ter recusado primeiro o convite que Koeman veio em 2005/06 a treinar o Benfica, na mesma remessa que trouxe Co Adriaanse, ex-técnico do AZ, para o FC Porto. Nessa dança de cadeiras, coube a Aloysius voltar a Alkmaar.

Em 2006/07 chegou à última jornada campeão, bastava-lhe vencer o Excelsior, equipa do fundo da tabela. Perdeu. Perderia também a seguinte, de pior maneira, mas com uma nuance inesperada, um contra-senso que põe em causa até as leituras que sempre fez de si próprio: os jogadores impuseram-se contra o pedido de demissão, rogaram-lhe que ficasse. Aceitou, com legenda: "Vamos ver, então, se valem mais do que isto." O título que chegou esta semana, três jornadas antes do final da Eredivisie (11 pontos de avanço sobre o Twente), é a resposta. Talvez para uma série de perguntas.

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posted by J G at 2:36 da tarde

2 Comentários:

Aqui está o treinador qeu gostaria de ver no Benfica. Com mais calma, explico porquê.

Bem oportuno, este post. Abraço.
Blogger Catenaccio, at 3:30 da tarde  
Juntamente com Capello é o meu treinador preferido. Se me perguntarem se gostava de o ver no SLB, a resposta é óbvia, se me pergutnarem se o verei no SLB a resposta é "não acredito". Simplesmente porque ele não é um "pau mandado". Quando se diz que mourinho teve 2 bons professores erra-se: mourinho é uma fotocopia de Van Gaal, versão portuguesa de setubal.
Blogger Constantino, at 4:43 da tarde  

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