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sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Entrevista de Domingos Soares de Oliveira ao Público

Domingos Soares Oliveira, administrador da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do Benfica, trocou em Maio de 2004 a consultoria pelo futebol. Diz que a sua origem sportinguista foi "uma questão explorada por algum tipo de oposição". "O que me faz vibrar no Benfica é o mesmo que faz vibrar qualquer benfiquista", diz este gestor, para quem o clube recebe muito pouco pelos direitos televisivos e tem nos sócios o seu principal activo.

Os direitos da Liga portuguesa estão vendidos até 2012/13. É garantido que o Benfica não renovará contrato com a Olivedesportos depois dessa data?
Essa é uma questão estratégica, que dependerá do que a próxima administração da Benfica SAD vier a tomar como decisão. O próximo mandato ocorre entre 2009 e 2012 e é nesse período que certamente será negociada ou não a renovação do contrato com a Olivedesportos. Não há nenhuma decisão fechada em relação a esse assunto, mas uma coisa é certa: tendo em conta todos os estudos que faz, seja em mercados internacionais ou nacional, seja associado às receitas que os seus jogos geram, o Benfica tem intenção de no futuro melhorar muito significativamente o contrato que tem neste momento. O Benfica recebe 7,5 milhões de euros por ano até ao final do contrato e recebeu um prémio de assinatura que fará com que estes valores possam chegar aos oito milhões de euros. Isto é manifestamente pouco. A média nos clubes europeus é de 50 por cento do total de receitas. O Benfica tem um total de receitas, sem venda de jogadores, entre 80 e 100 milhões de euros.

Portanto, o valor justo seria 40 milhões?
O valor justo seria 40 milhões. Depois poderia dizer-se que o investimento publicitário no mercado português é mais baixo. Podemos ter isso em consideração, mas não é certamente os 7,5 milhões que recebemos neste momento.

Esse valor não será alterado até 2013?
O presidente Luís Filipe Vieira tem sempre dito que os contratos são para respeitar. Se houver vontade do actual detentor dos direitos de propor uma renegociação, não deixaremos de olhar para ela. O Benfica manifestou n vezes o seu interesse em receber mais pelo contrato, mas não é por queremos mais que temos direito a isso.

De que maneira pensa que a crise financeira vai afectar os clubes portugueses?
Não conheço a situação dos outros clubes, mas no caso do Benfica ainda não sentimos isso com as assistências. Em todos os jogos até agora superámos aquilo que tínhamos previsto do ponto de vista orçamental. Também é verdade que tivemos grande jogos até agora, quer na pré-época (Feyenoord e Inter), quer nas competições europeias (Nápoles), quer no campeonato (FC Porto e Sporting). Até agora não sentimos esse efeito. Na adesão aos camarotes sentimos algum efeito ligeiro, mas mais por o Benfica não disputar a Liga dos Campeões. A adesão foi de 90 por cento, um pouco abaixo dos últimos anos, que andava nos 93 a 94 por cento. Podemos é sentir daqui para a frente, mas não vai afectar esta época, porque a receita de bilheteira está praticamente cumprida, porque se cumpre com os grandes jogos.

Há maior risco de impacto no crédito, nas transferências de jogadores ou na publicidade?
O Sporting inverteu um pouco a tendência, mas o Benfica nos resultados que vai apresentar não tem um impacto muito severo da não venda de jogadores. No exercício anterior, em 2006/07, o Benfica apresentou cerca de 15 milhões de euros de lucro, o que foi mais ou menos equivalente ao que obtivemos à venda de jogadores. A dependência extrema que outros clubes têm para equilibrar as contas não existe no nosso caso. Quando surgem boas oportunidades, temos feito alguns bons negócios, que permitem melhorar capitais próprios, ma não é necessidade absoluta para equilíbrio de contas. Todos os clubes vendem jogadores, mas o Benfica aguenta mais um ano se as condições não forem propícias. No crédito, temos sofrido como todos com as variações dos juros, mas o peso dos encargos financeiros é mais baixo do que noutros clubes. O que sentimos dos nossos parceiros é alguma tranquilidade. Nas transferências, os clubes mais pequenos, que se relacionam com Benfica, Sporting e FC Porto, acredito que não terão grandes problemas. Os clubes maiores que estão muito dependentes dos mercados italianos e, particularmente, inglês, poderão ter um pouco mais de dificuldade, mas isso é uma questão de diversificar.

Uma das questões de que se tem falado é a imposição de tectos salariais. Concorda?
Quando se tenta impor tectos salariais é porque não se confia a gestão que os responsáveis do clube fazem. O tecto salarial é um recurso, mas não é uma medida de gestão estratégica. Do lado do Benfica, e este ano a folha salarial aumentou ligeiramente, mantém-se em valores muito abaixo da recomendação do antigo G-14, que era ter uma massa salarial à volta de 50 a 55 por cento das receitas. O nosso total de receitas é 80 a 100 milhões e a massa salarial é inferior a 30 milhões. Haverá clubes em que se segue uma estratégia de maior risco e se os mercados se retraírem pode trazer problemas.

Olhando para o mercado português, qual é o limite que um clube poderá pagar?
Julgo que a questão não se deve colocar assim. Até pelo que li recentemente numa entrevista do presidente do Sporting, a capacidade que o Sporting tem não será idêntica à do Benfica. Além disso, há clubes que têm 20 a 25 jogadores e outros tem 60 jogadores. Sei que há jogadores que têm custos de dois a três milhões de euros por ano, mas é muito diferente se esse jogador custou 20 milhões ou chegou a custo zero.

Sócios investem 12 a 14 milhões de euros por ano

O Benfica fez dois empréstimos obrigacionistas. Tem mais alguma operação do género?
As duas operações correram bem. Esta última, em 2006, foi um sucesso, porque a procura foi praticamente o dobro daquilo que foi disponibilizado ao mercado. A procura foi de 39 milhões e disponibilizamos 20 milhões. É natural que continuemos com a política de disponibilizar aos adeptos do Benfica este tipo de instrumentos, que têm remunerado razoalvelmente bem quem investe no Benfica.

As acções do Benfica na bolsa estão abaixo de metade do preço de lançamento. Está satisfeito com o comportamento na bolsa?
Não estamos satisfeitos. Quem investiu cinco euros há sete ou oito anos e neste momento vê as acções a valer pouco mais de dois euros, não podemos estar satisfeitos. O comportamento das acções do Benfica não tem correlação directa com os resultados da empresa. Em Outubro do ano passado, divulgámos um resultado recorde do Benfica, com cerca de 15 milhões de resultados positivos, e a acção não mexeu. O que influencia o valor da acção é muito mais emotivo e muito menos racional. Creio que haverá um momento de maior maturidade, em que os mercados vão valorizar mais o que a empresa vale e não tanto os resultados de a bola bater na trave.

Já ouvi colegas seus da SAD dizer que é sempre uma possibilidade retirar as acções da bolsa. É realmente uma hipótese?
Os clubes ingleses já passaram por este processo. Em termos teóricos, não podemos rejeitar esse cenário. No caso concreto do Benfica, não estamos perto disso acontecer, até porque um dos nossos maiores activos são os sócios do Benfica. Todos os anos investem, sem qualquer retorno, 12 a 14 milhões de euros e não pedem um dividendo financeiro. Só querem um dividendo emotivo. Isso é único em termos nacionais. A dez anos de distância, significa que temos um accionista que investe 130 ou 140 milhões de euros e que nada pede em troca. É uma situação incomparável termos tantos sócios activos: 177 mil. Há naturalmente sócios, como os infantis que não pagam quota, e sendo a quota média à volta dos 100 euros.n

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posted by J G at 5:55 da tarde

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