Encarnado e Branco

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quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Rui Malheiro Responde ao Inquérito Pós Engenheiro

Rui Malheiro é o meu guia espiritual no que ao futebol diz respeito. É ele o responsável por eu manter este humilde cantinho dedicado ao Benfica na blogosfera, pois foi o Rui que me convidou para fazer parte desse grande projecto chamado Terceiro Anel. Vão ver pelas suas respostas como o homem continua a respirar futebol por todos os poros, e sempre com análises sustentadas e descritivas. Está ligado ao futebol profissional acompanhando até os campeonatos mais obscuros onde descobre pérolas como Linz, ou Kaz, por exemplo.
Depois de ter contado com ele na última edição de rádio que fiz com o Vítor Junqueira (podem ouvir aqui: triângulo escaleno #14) é com orgulho que apresento a participação de Rui Malheiro no I.P.E.:

Como é que sobreviveste a 15 meses de “Santismo”?
Era uma aposta, à partida, condenada ao fracasso, pois ser benfiquista está longe de ser uma condição suficiente para treinar um clube com a dimensão do Benfica. Independentemente de um percurso com 1 Campeonato, 2 Taças de Portugal, 2 Supertaças e 1 Taça da Grécia, Fernando Santos conseguiu ser o único técnico, em Portugal, a não vencer um Campeonato com Jardel no seu melhor – marcou 38 golos nessa temporada (1999/2000) -, como também conseguiu o feito de em três anos só vencer um Campeonato no FC Porto, iniciando, pela primeira vez e única até ao momento, um ciclo de mais de um ano sem vencer campeonatos dos “dragões” nos últimos 23 anos. O passado na Liga portuguesa anterior ao FC Porto, apesar de algum crescimento anual, não era o mais animador, e as passagens posteriores por AEK, Panathinaikos e Sporting confirmaram as limitações evidenciadas no comando técnico do FC Porto: alguns bons períodos, com ciclos interessantes de jogos consecutivos sem perder, mas pouca tendência – misto de incapacidade, postura pouco confiante e indecisões relevantes – para vencer em momentos importantes e decisivos. No fundo, a imagem dos 15 meses – 12 teriam sido mais do que suficientes – de Fernando Santos ao serviço do Benfica, e, certamente, aquilo que o seu futuro como treinador lhe reserva.

A notícia da saída de Fernando Santos fez-te vibrar mais do o golo do Petit de cabeça(!) no Bessa?
Independentemente de se tratar de uma excelente notícia para o futuro do clube, uma vitória do Benfica, no Bessa, diante do Leixões, é (ou seria, neste caso) bem mais importante que a saída de Fernando Santos do comando técnico do clube. Primeiro porque não seria impeditiva para a consumação da saída de Santos (Heynckes saiu após uma vitória) e daria mais 2 pontos que, por exemplo, foram determinantes na perda do Campeonato anterior e na eliminação da Liga dos Campeões na última temporada.

Apesar de tudo Fernando Santos é benfiquista e por isso merece ser feliz. Achas que ele devia tentar contrariar o ditado “Santos da Casa Não Fazem Milagres” noutro espaço que lhe é caro como o Centro Desportivo de Fátima na Liga de Honra?
O Centro Desportivo de Fátima tem um bom treinador – Rui Vitória, que, curiosamente, passou pela formação do Benfica, e soma 3 triunfos consecutivos em 2007/08. Assim sendo, Fernando Santos terá que esperar por outra “paróquia”.

Em que nomes apostas para melhores reforços desta época?
Com 3 ou 4 reforços a chegar nos próximos dias e que deverão constituir uma verdadeira mais-valia para o actual plantel a pergunta é algo precoce. Relativamente aos jogadores já contratados, Oscar Cardozo deverá ser o principal reforço e está a confirmar-se como tal – é a única aquisição que se afirmou como titular indiscutível no imediato -, apesar das limitações físicas que o impedem de jogar no máximo das suas capacidades. Caso Gonzalo Bergessio consiga atingir o nível evidenciado no Campeonato Argentino, o que está ainda bem longe de acontecer, também poderá ser uma importante mais-valia para o Benfica, até porque pode preencher várias posições no ataque. Os jovens Angel Di Maria e Fábio Coentrão poderão retirar importantes dividendos desta mudança de comando técnico, que irá projectar mais o jogo pelos flancos, entre o 4x2x3x1 e o 4x4x2 clássico, contrariando o 4x4x2 centralizado de Fernando Santos. Contudo, necessitam de tempo e espaço para se adaptarem a um clube com a dimensão do Benfica e ao facto de não poderem ter o protagonismo que possuíam nos seus anteriores emblemas., necessitando, com isso, de adquirir um maior sentido colectivo.

E que jogadores gostarias de ver contratados até ao fim do mês?
Atendendo ao nome do novo técnico e aos seus esquemas tácticos preferenciais parece-me que a aquisição prioritária deverá ser a de um extremo direito de qualidade insuspeita e que se afirme imediatamente. As chegadas de um defesa-central e de um médio-centro com capacidade de construção também são importantes. A de um novo avançado-centro não me parece tão prioritária, mas será igualmente bem vinda.

Camacho é a melhor aposta, ou preferias o regresso de Trapattoni? O italiano perdeu a Taça mas foi campeão…
O regresso de Jose Antonio Camacho parece-me ter sido devidamente planeado, mas tardiamente apresentado. É uma aposta que vai de encontro ao desejo da maior parte dos associados, atendendo também à indisponibilidade de Sven Goran Eriksson, com que forma a dupla de técnicos mais consensuais no universo “encarnado”. Se Eriksson venceu 3 campeonatos em 5 possíveis e levou o clube a duas finais europeias, Camacho apenas ganhou uma Taça de Portugal, o que não justificaria, à partida, tamanho apego por parte dos associados que “condenaram” no passado treinadores vitoriosos. É certo que o seu ano e meio à frente do Benfica coincidiu com o período áureo do FC Porto de Mourinho, e que os 74 e 75 pontos alcançados em 2002/03 e 2003/04 seriam suficientes para ser campeão em 2004/05 ou 2006/07. E é um pouco essa a resposta que Camacho terá que dar, confirmando o “mito” e a aura de conquistador, finalmente com triunfos relevantes como treinador.
Em relação a Trapattoni está bem no Salzburgo, onde procura colocar o clube na fase de grupos da Liga dos Campeões e repetir o título da temporada anterior, algo que se afigura complicado atendendo ao crescimento competitivo dos rivais. O seu trabalho no Benfica finalizou com o quebrar do longo jejum de títulos, maximizando de forma inteligente os parcos recursos à sua disposição.

Qual o melhor jogo do Benfica de Camacho na primeira passagem do espanhol pela Luz?
O mais espectacular talvez tenha sido o 6-2 em Setúbal, frente ao Vitória orientado por Luís Campos, com 3 golos de Simão Sabrosa. Mas mais do que grandes jogos, o Benfica de Camacho destacou-se por algumas vitórias importantes: as duas de Alvalade, a da final da Taça diante do FC Porto e a do trágico jogo de Guimarães acabam por ser algumas das mais marcantes.

Vamos ser campeões com quantos pontos de avanço?
Bastará um ponto de vantagem, mas é um objectivo difícil para esta temporada atendendo às vicissitudes ocorridas nas últimas semanas, que levam o Benfica a iniciar uma época em registo de pré-época, logo com um atraso significativo em relação aos rivais FC Porto e Sporting. Passará e muito por Camacho impedir que o Benfica perca mais pontos nesta fase inicial, em que terão que ser criadas rotinas em competição, como também chegar à fase de grupos na Liga dos Campeões, algo que não conseguiu em 2003/04, perante uma Lazio bem mais poderosa que o modesto Copenhaga. A próxima jornada de Liga, atendendo ao clássico, poderá permitir recuperar no imediato o atraso pontual após o empate da 1ª jornada, o que poderá ser um excelente mote para os restantes 28 jogos.
Numa análise aos números de Jose Antonio Camacho como treinador do Benfica necessitará de uma maior regularidade nos confrontos com os “grandes” – 1 ponto em 9 possíveis frente ao FC Porto ; 2 vitórias em Alvalade frente ao Sporting, mas 2 derrotas na Luz – e quebrar algumas “malapatas” com clubes médio-europeus: apenas 1 vitória em 4 jogos com o Boavista ; apenas 1 vitória em 3 jogos com a União de Leiria ; e os dois empates caseiros frente ao Moreirense, então treinado por Manuel Machado, actual treinador da Académica. A redução de 18 para 16 clubes também parece não ajudar muito: em 2002/03, Camacho somou 12 pontos em 12 possíveis com os classificados entre o 15º e o 18º lugar ; em 2003/04, Camacho somou 22 pontos em 24 possíveis com os classificados entre 15º e o 18º lugar.

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posted by J G at 1:58 da manhã

12 Comentários:

O Grande Rui Malheiro. É um senhor nas suas análises. Uma vênia.

Abraço,
Pedro Varela
Blogger Bancada de Leão, at 12:47 da manhã  
Excelente. Destaco:
"Numa análise aos números de Jose Antonio Camacho como treinador do Benfica necessitará de uma maior regularidade nos confrontos com os “grandes” – 1 ponto em 9 possíveis frente ao FC Porto ; 2 vitórias em Alvalade frente ao Sporting, mas 2 derrotas na Luz – e quebrar algumas “malapatas” com clubes médio-europeus: apenas 1 vitória em 4 jogos com o Boavista ; apenas 1 vitória em 3 jogos com a União de Leiria ; e os dois empates caseiros frente ao Moreirense, então treinado por Manuel Machado, actual treinador da Académica. A redução de 18 para 16 clubes também parece não ajudar muito: em 2002/03, Camacho somou 12 pontos em 12 possíveis com os classificados entre o 15º e o 18º lugar ; em 2003/04, Camacho somou 22 pontos em 24 possíveis com os classificados entre 15º e o 18º lugar."

Ao que me recordo Camacho caía sempre aos pés de equipas rijas. Talvez por isso não conseguiu ganhar ao Boavista e nunca ao Porto, isto apesar de esse Porto ser algo de outro campeonato.
Caiu também aos pés de equipas que não sendo colossos europeus, vinham de um campeonato mais forte, como o Italiano. Veja-se os jogos frente à Lazio e ao Inter. Por isso não considero Camacho um primor táctico. Sempre que se cruza com um treinador mais astuto, cai. Espero que tenha melhorado a esse aspecto.

Cá, deverá ter dificuuldades já esta semana frente ao Guimarães de Cajuda, depois frente ao Braga, parece-me que pela forma actual do Boavista deverá quebrar a malapata.
Blogger dezazucr, at 9:28 da manhã  
Boa análise esta do Rui, mas talvez demasiado científica para um treinador tão emotivo como Camacho.
Acho que o grande desafio dele, para ser campeão, acima de tudo, é mesmo perder menos pontos em casa.
http://benfica-fc.com/slbenfica/
Anonymous Anónimo, at 11:22 da manhã  
Que saudades do Rui "Terceiro Anel" Malheiro!!

Obrigado João por permitires, ainda que esporadicamente e resumido a uma entrevista, possamos continuar a ler o Rui.

Mas levanta lá um pouco do véu e diz lá que funções são essas em que o Rui anda agora empenhado? Tournou-se "olheiro"? :)
Blogger Urra Apre, at 1:35 da tarde  
Urra Apre, não tens que agradecer. :)

O Rui Malheiro vai voltar a estar em destaque por aqui em breve. ;)

Respondendo... o Rui neste momento trabalha profissionalmente na área de prospecção de jogadores para o Boavista. Daí eu ter falado do Linz , e do Kaz, por exemplo.

Até posso adiantar que o jovem que nos empatou no bessa no sábado à noite também passou pelos olhos do Rui. :)
Blogger J G, at 4:13 da tarde  
Qualquer dia regressa o Terceiro Anel. Isso é que era...
Anonymous Anónimo, at 4:16 da tarde  
O regresso do Terceiro Anel era muito porreiro. Mas acho quase impossível. E caso isso fosse possível, só com o Rui Malheiro a coordernar.

Abraço,
Pedro Varela
Blogger Bancada de Leão, at 7:03 da tarde  
Excelente análise. Faria apenas uma ligeira correcção, já que uma das derrotas caseiras frente aos lagartos deu-se em terreno neutro.

Concordo que Camacho não tem a agilidade táctica que caracteriza os grandes mas, relativamente aos confrontos italianos, é bom salientar que o Benfica cai à custa de erros individuais. Relembro o golo da Lazio a partir de lançamento lateral, a palermice do Roger que concedeu a Sinisa um penalty fora da área, e a anormalidade que foi o golo do Karagounis no Giuseppe Meazza, num dia em que Camacho até deu banho táctico a Mancini nos primeiros 45 minutos.

Confesso que não acredito num Benfica campeão com Camacho, mas acredito num Benfica que, mesmo sem jogar um futebol de grande qualidade (uma imagem enganadora que curiosamente ficou da sua última passagem) dará tudo o que tem.
Blogger Quetzal Guzman, at 9:33 da tarde  
Quetzal,

O treinador da altura era o Zaccheroni e o banho táctico durou até o treinador italiano mudar do 3x4x1x2 para o 4x4x2, pois as asas do Benfica estavam a perfurar a defesa a 3. Lembro que estivémos a ganhar 0-1 e o Nuno Gomes ainda atirou uma bola ao poste. Depois, quem tinha Vieri, Recoba e Obafemi Martins...não desperdiçava oportunidades!

Também, sou da opinião que o Camacho não é fraco tacticamente. Apenas dá mais nas vistas noutros aspectos, enquanto treinador: liderança de balneário, motivação, gosto pelo risco e análise individual dos jogadores. Porém, julgo que o espanhol interpreta bem o conceito de zona, ou seja, preocupa-se imenso com o posicionamento das pedras em campo, com ou sem bola, estuda bem os adversários, conceptualiza lances de bola parada (até Mourinho chegou a copiar um livre) e prepara muito bem as acções de transição. Ele pode ter aquele ar meio deselegante, aos berros no banco e com a camisola a suar, mas não é anjinho nenhum.

Cumprimentos!
Anonymous Anónimo, at 9:58 da tarde  
Zacheroni, claro. Mancini enfrentou Camacho no iníco dessa época pela Lazio.
Blogger Quetzal Guzman, at 3:37 da manhã  
E agora Camacho tem a vantagem de já conhecer o campeonato e a maneira de jogar das equipas contra o Benfica.

Nota: O Benfica não perde em casa para o campeonato há mais de um ano (alguma coisita fez o FS). A ver se Camacho continua a saga.
Até porque antes de sair, Camacho vinha de uma série de 12 jogos sem perder.

Na Europa nos últimos anos perdeu apenas com o Villareal e o Manchester.
Blogger dezazucr, at 9:59 da manhã  
Rui Malheiro, não quererás, então, ocupar o cargo de director desportivo no GLORIOSO? Isto, claro, enquanto o teu homónimo, O Maestro, não ocupe o lugar :)
Blogger Urra Apre, at 12:42 da tarde  

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