Encarnado e Branco

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sábado, 25 de agosto de 2007

Mário Lopes Dá a Sua Versão Verde ao Inquério Pós Engenheiro

Rara oportunidade para dar voz a um lagarto aqui no tasco. Apesar de haver participações lagartas regulares nos comentários, este é o momento em que dou voz a um grande sportinguista amigo, e companheiro de longas tertúlias futebolísticas entre Benfica e Sporting, e sobre o seu ídolo de sempre George Best.
Para quem não leu na altura o texto que o Mário escreveu a meu convite sobre a morte de George Best aconselho vivamente que o façam agora: George Best: Marcando Fora de Jogo

Mário Lopes
escreve sobre música nas páginas do jornal Público. Já passou pelo Blitz, claro, e é por estes dias leitura obrigatória para quem adora música. Por causa da sua imensa sabedoria sobre o rock desde os anos 60 há quem garanta que já passou a casa dos 40 anos há muito tempo. Eu garanto que o Mário é mais novo do que eu, e que os seus textos são fruto de uma imensa paixão que vai dos Beatles aos Rolling Stones. Aceitou o desafio de bom grado, e foi dos primeiros a mostrar a sua indignação pela saída do Engenheiro via sms. Esconde brilhantemente no humor das suas respostas todo o nervosismo por o seu rival estar de volta aos dias de confiança. Mário Lopes diz de sua justiça:

Como é que viveste os 15 meses de "Santismo"?
Como já conhecia muito bem a gravata apertada do senhor, vivi-os com a certeza que ia acabar como acabou mas, ao mesmo tempo, com a secreta esperança que a famosa linha de rendimento Santos - uma mediania atroz, conjugada com um ou dois meses de ilusão em que as coisas parecem resultar -, poderia mantê-lo por muito tempo no banco do Benfica. Daqui a uns cinco anos, iríamos vê-lo finalmente carregado em ombros no Estádio da Luz, vulgo "cestinho de pão" (copyright Cristiano Pereira), quando na última jornada assegurasse a ida à Taça Uefa com um empate sofrido perante o Beira-Mar.

A notícia da saída de Fernando Santos transtornou-te mais do que o golo do Petit de cabeça(!) no Bessa?
Obviamente que uma perca desta magnitude causa algum abalo. Não ficava tão transtornado desde que o inigualável Moretto, o ágil herói de Paços de Ferreira, deixou de ser titular no Benfica - mesmo que sejam situações com dimensões estéticas diferentes: Moretto era uma espécie de Buster Keaton das redes (insuperável na comédia física), enquanto Fernando Santos era mais austero e, como Job, carregava consigo o peso da culpa cristã. O golo de Petit é todo um outro caso. Como me dizia um colega no jornal, por acaso sportinguista (logo isento), o golo foi uma bofetada de luva branca. O Leixões andava arrogante, a anunciar que ia esmagar, que eram favas contadas e sei lá mais o quê, mas o Benfica não se deixou atemorizar. Aguentou com dignidade o empate e conseguiu deixar frustrados os, segundo estimativa de Gaspar Ramos, 4 milhões e meio de leixonenses espalhados pelo mundo fora.

Apesar de tudo Fernando Santos é benfiquista e por isso merece ser feliz. Achas que ele devia tentar contrariar o ditado "Santos da Casa Não Fazem Milagres" noutro espaço que lhe é caro como o Centro Desportivo de Fátima na Liga de Honra?
Fernando Santos, como todo o ser humano, merece ser feliz. Infelizmente, não me dava muito jeito essa história do Fátima. O Sporting tem lá o Carlos Saleiro a ganhar experiência e não convém estragar o rapaz com doses maciças de mau karma.

Em que nomes apostas para melhores reforços desta época?
O Benfica tem de olhar para a sua história recente e aprender com isso. Tem que analisar todo o longo percurso que conduziu ao último título (ou lá o que foi aquela coisa em 2004/2005) e não cair nos erros do passado. Como tal, homenageando o grande obreiro do título na sombra, nunca acarinhado devidamente pelos lados da Luz - falamos obviamente de Artur Jorge, o homem que lançou as bases que frutificariam com Trappatoni -, as melhores contratações só podem ser duas: Nelo e Tavares.

E que jogadores não gostarias de ver contratados até ao fim do mês?
Exceptuando o caso de Simão, cuja mudança para o Benfica permitiu perceber o pequeno birrinhas que tínhamos inadvertidamente incubado em Alvalade, incomoda-me ver tipos que aprendi a gostar vestidos de verde perdidos entre a histeria barbuda benfiquista. Felizmente Camacho, num acto magnânime, compreendeu as minhas angústias e correu a dizer a Vieira que não queria Rochemback, um dos melhores médios centros a jogar em Portugal na última década. Acho muito bem. O "Cebola" parece-me muito mais indicado - e é mais uma jogada de marketing genial de Filipe Vieira. Se imprimirem a alcunha do jogador na camisola, os benfiquistas, ímpares a negar orgulhosamente qualquer ideia de ridículo que lhes apontem, correriam aos magotes até à loja da Luz, dela saindo com um digníssimo "Cebola" estampado no equipamento rosa.

Camacho é a melhor aposta, ou preferias o regresso de Trappatoni? O italiano perdeu a Taça mas foi campeão…
Trappatoni, definitivamente. O homem foi eliminado da Taça, saiu bem cedo das competições europeias e ganhou o campeonato porque, enfim, o Porto andava a lutar com o fantasma de Mourinho, qual D. Quixote masoquista e esquizofrénico, e o Sporting enfrentava uma luta titânica com aquele senhor que se sentava no banco, cujo nome não pronuncio por receio de despertar espíritos malignos, que tragicamente lhe desviou as atenções do campeonato.

Qual o melhor jogo do Benfica de Camacho na primeira passagem do espanhol pela Luz?
A minha memória selectiva só recorda o inolvidável. Coisas como o golo de Acosta ao Porto, em correria imparável após passe de Secretário, o rei das assistências. Coisas como o golo de Balakov a Silvino, aos dois minutos entre o nevoeiro abençoado de Alvalade, ou o do mesmo Balakov ao Setúbal, no Bonfim, que Maradona terá considerado, em discurso em plena Bombonera, uma obra de arte "apenas comparável à Sagrada Família" e, "definitivamente melhor que aquele golito à Inglaterra". Do Benfica de Camacho, portanto, pouco resta na minha memória. Lembro-me porém desse magnífico Benfica - Inter que terminou empatado 0-0. O Benfica a atacar o jogo todo, a criar oportunidades e, no final, o Inter a celebrar. Esse jogo foi a antítese do Benfica, clube do 8 ou 8,5. Ou joga terrivelmente e João Pinto acaba a ler um pedido de desculpas à população de Vigo pela miséria de espectáculo que proporcionou aos exigentes adeptos do Celta, ou joga miseravelmente e agradece aos céus ter um homem chamado Rui Costa para o salvar peranto o colosso Copenhaga. Nesse jogo com o Inter, nada disso se passou. Deu gosto ver o Benfica jogar, o Benfica empatou e hipotecou a eliminatória. Quase diria que foi um Benfica à Sporting.

Vamos ser campeões com quantos pontos de avanço?
Essa é uma pergunta que não se coloca. Como se nota pela atitude geral dos benfiquistas, o seu clube não precisa de ser campeão. Na sua história centenária, teve oito décadas de glória e vive em prazenteira mediania desde então - exceptuando, obviamente, o fogacho da grandiosidade de outrora que foram as recente vitórias no Dubai e no Torneio do Guadiana. Não ganhem ou não ganhem, os benfiquistas irão anunciar-se campeões na pré-época, entrarão em euforia incontrolável se em alguma jornada chegarem ao primeiro lugar, que perderão inevitavelmente na jornada seguinte, e inflamados pela retórica de Luís Filipe Vieira, o Roque Santeiro da Luz ("Tô certo ó tô errado?"), hipnotizados pelo voo de uma ave que só quer que a deixem comer um naco de carne em paz, gritarão no final, barriga cheia pelo terceiro lugar, pelos quartos de final da Liga dos Campeões (excepcionalmente) e pelos títulos de há 20, 30, 40 anos atrás: "Campeões somos nós". O Benfica é grande demais para se preocupar com miudezas como ganhar campeonatos, taças ou supertaças.

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posted by J G at 2:03 da tarde

2 Comentários:

Sempre gosto mais do que o Mário escreve sobre música. A falar sobre o Benfica não escreve sobre, "dá música". É verdade que há muitos benfiquistas assim como ele diz, mas também há muitos sportinguistas. Mas os benfiquistas são sempre mais.
Como também há benfiquistas como ele e outros sportinguistas. Mas esses benfiquistas também são mais. É uma questão de dimensão. E, como ele diz, não tem a ver apenas com os últimos 12 ou 15 anos.
http://benfica-fc.com/slbenfica/


http://benfica-fc.com/slbenfica/
Anonymous Anónimo, at 6:17 da tarde  
"O Benfica tem de olhar para a sua história recente e aprender com isso. Tem que analisar todo o longo percurso que conduziu ao último título (ou lá o que foi aquela coisa em 2004/2005)..."

É esta frase de Mário Lopes que me deixa com aquela cara de um rato quando vê um gato (habitual no prof. peseiro, quando balançava no banco verde e branco. Ora se bem percebo, os campeonatos que o benfica ganha, só valem se no porto não existir qualquer conflito direccional e se no campo grande estiver um grande treinador sentado no banco? O Benfica GANHOU aquele campeonato com justiça e com um belo tiro do gigante Luis V (Luisão), qual shotgun americana no iraque... Se assim não fosse, tal triunfo nunca mais seria possivel, pois no porto estão sempre mais preocupados com a ida da ASAE áqueles bares com uma lâmpada de 40w à porta e no sporting, duvido que qualquer treinador bom de cabeça fosse capaz de pisar os azulejos de alvalade (note-se que paulo bento tem um belo capacete a proteger a esfera superior)!!
Para terminar, admito que soltei uma sabrosa gargalhada quando o Beatle português se refere ao brasileiro picanhas (rochemback) como o melhor médio a passar por portugal nos ultimos anos...uma bruxa disse-me ao ouvido que o verde provoca alucinações...será?
Anonymous Anónimo, at 2:59 da tarde  

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